sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Hermann Hesse escreveu um livro intitulado O Jogo das Contas de Vidro. É a estória de uma ordem monástica na qual os seus membros, em vez de gastarem o seu tempo com ladainhas e exercícios semelhantes, se dedicavam a um jogo que era jogado com contas de vidro coloridas. Eles sabiam que os deuses preferem a beleza às monótonas repetições sem sentido. O livro não descreve os detalhes do jogo. Mas eu sei do que se tratava. Enquanto escrevo ouço a Sonata n. 27, op. 90, de Beethoven. É linda. As contas de vidro coloridas de Beethoven, nesta sonata, são as notas do piano. Vitrais também são jogos de contas de vidro. Foi na poesia de uma poetisa minha amiga, ex-aluna, Maria Antônia de Oliveira, que pela primeira vez vi a vida como um vitral.

“A vida se retrata no tempo
formando um vitral,
de desenho sempre incompleto,
de cores variadas,
brilhantes, quando passa o sol.
Pedradas ao acaso
acontece de partir pedaços
ficando buracos,
irreversíveis.
Os cacos se perdem
por aí.
Às vezes eu encontro
cacos de vida
que foram meus,
que foram vivos.
Examino-os atentamente tentando lembrar
de que resto faziam parte.
Já achei caco pequeno e amarelinho
que ressuscitou
de mentira, um velho amigo.
Achei outro pontudo e azul, que trouxe em nuvens
um beijo antigo.
Houve um caco vermelho
que muito me fez chorar,
sem que eu lembrasse
de onde me pertencera.“
(Ceriguela, p.14)

Esses cacos de vitral, essas contas de vidro coloridas - isso meu corpo e minha alma amam, para todo sempre. O amor não se conforma com o veredicto do tempo - os cacos do cristal se perdendo dentro do mar, as contas de vidro colorido afundando para sempre no rio do tempo.

Quero que tudo que eu amei e perdi me seja devolvido. Todas essas coisas moram nesse imenso buraco dolorido da minha alma que se chama saudade.

Para isso eu preciso de Deus, para me curar da saudade. Dizem que o remédio está no esquecimento. Mas isso é o que menos deseja aquele que ama. Conta-se de um homem que amava apaixonadamente uma mulher que a morte levou. Desesperado, apelou para os deuses, pedindo que usassem seu poder para lhe devolver a mulher que tanto amava. Compadecidos, eles lhe disseram que devolver a sua amada eles não podiam. Nem eles tinham poder sobre a morte. Mas poderiam curar o seu sofrimento, fazendo-o esquecer-se dela. Ao que ele respondeu: “Tudo, menos isso. Pois é o meu sofrimento o único poder que a mantém viva, ao meu lado!“

Também eu não quero que os deuses me curem, pelo esquecimento. Quero antes que eles me devolvam minhas contas de vidro. E é assim que eu imagino Deus: como um fino fio de nylon, invisível, que procura minhas contas de vidro no fundo do rio e as devolve a mim, como um colar. Não por ele mesmo (sobre quem nada sei), mas por aquilo que ele faz com minhas contas....

Quero Deus como um artista que cata os cacos do meu vitral, partido por pedradas ao acaso, e os coloca de novo na janela da catedral, para que os raios de sol de novo por eles passem.

O que eu quero é um Deus que jogue o jogo das contas de vidro, sendo eu uma das contas coloridas do seu jogo...

(Transparências da eternidade, Verus, 2002)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ton Geuer


Ele é holandês, já foi São Nicolau e Holambra era seu destino quando deixou a Bolívia no início dos anos 60 / Edição Nº 724 - 02/01/2009



Geuer, em seu ateliê em Barão Geraldo


Em 1959, 21 anos após se mudar com seus pais e irmãos para a Bolívia, o holandês Ton Geuer viu uma revista que mudaria a sua vida: estampada na capa, a foto de uma irmã da Congregação Lúmen Christi, rodeada por crianças loiras e morenas, contava a sua história em Holambra, onde, entre outras atividades, dava aulas de cerâmica.

Após avaliar os prós e contras com sua família – a esposa holandesa Catharina, com quem casou em 1954 na Bolívia e com quatro filhos – Ton pegou o Trem da Morte em Santa Cruz de La Sierra e chegou a Corumbá (MS).
“Foi a primeira vez que me senti em casa”, desabafou Geuer, ao lembrar das cerca de 10 mudanças por cidades da Holanda e Alemanha até chegar à América, em 1938, aos 16 anos, sempre acompanhado por seus pais. “Saímos da Alemanha para ficarmos longe do nazismo, pois meu pai já tinha até protestado contra a queima de livros”, lembrou, ao frisar que a mudança não foi uma fuga.
“Meu pai conhecia um pároco holandês que estava em missão na Bolívia e logo após avaliar as condições do país, fomos para a América”, disse. E ao chegar na Bolívia, a tradição artística da família quase deu lugar a outra ‘ocupação’: eles vieram pela agricultura, mas como o local não propiciava a plantação, a arte reinou e Ton aprendeu a fundir vidros, a fazer cerâmica, mas achava que não tinha talento como seu avô, pai e irmãos.
Ao casar, o sogro incentivou o investimento em laticínios e por algum tempo se manteve entre queijos e iogurte. O empreendimento cresceu, passou a faltar leite na cidade, veio a concorrência e, fi nalmente, Ton viu a revista sobre Holambra.
“Conhecendo a tradição do gado holandês, a intenção era me mudar com minha família para o Brasil, morar próximo de Holambra para facilitar a compra de leite e vender os produtos em São Paulo”, resumiu. Veio conhecer o Brasil sozinho no começo de 1960, chegou primeiro em Corumbá, onde se sentiu feliz por falar e ser entendido em castelhano, visitou o consulado holandês em São Paulo e colocou um anúncio no jornal de Campinas oferecendo seus serviços nas áreas de latício, cerâmica e vitrais.
Ao arrumar um emprego, vendeu tudo que tinha na Bolívia, passou a fábrica para o cunhado e veio para Campinas em outubro de 1960 com a esposa e quatro fi - lhos – aqui eles teriam mais dois.
Mas o emprego garantido não deu certo e Ton ‘peregrinou’ muito até se fi rmar como um dos vitralista mais conhecidos do Brasil: sem emprego, foi a Pedreira – devido ao ramo de atividade – e lá conheceu o Padre Nilo, que o apresentou a um holandês de sobrenome van Schelle – da Fazenda Pau d`Alho – e, posteriormente, o vitralista chegaria a Charles Hogenboom, o qual lhe deu conselhos sobre investimentos.
“Cheguei até a me candidatar para uma vaga no sul, mas quando cheguei lá já era tarde”, disse, ao lembrar que o emprego era em uma fábrica de laticínio, hoje Batavo. Sem o emprego em Carambeí, Ton procurou os padres da Paróquia São José, que eram holandeses, na Vila Industrial, em Campinas, e que conheciam a tradição de sua família com vitrais e foi incentivado a apostar nesta área. Para encoraja-lo, os padres apontaram que tinham materiais em Holambra.
“A máquina de chumbo estava em um ferro velho de Holambra, pois ninguém sabia para que ela servia”, lembrou, ao apontar que se encontrou com o padre de Holambra, com o qual idealizou os vitrais da igreja Divino Espírito Santo – os primeiros sete dias da criação –, projeto que sairia do papel muitos anos depois.
Os primeiros trabalhos de Ton foram para a igreja São José, em 1962, mas os vitrais foram destruídos por uma chuva em 1971. Durante este tempo, Geuer deixou sua primeira casa em Campinas, no bairro Taquaral, e abriu um ateliê em Barão Geraldo, onde trabalha até hoje ao lado da esposa, fi lhos e estagiários. Nos primeiros anos, Ton conciliou arte com queijos e aulas de cerâmica para imigrantes.
E para descontrair, até aceitou o convite para ser São Nicolau em Holambra. “Quando ele desceu do cavalo, falei para a minha mãe: olha, São Nicolau tem os mesmos sapatos que o papai”, contou uma das fi lhas.
“Eu era muito tímido e acho que não me saí muito bem ao responder as perguntas das crianças”, disse Ton, ao avaliar sua primeira e única experiência como São Nicolau. Outro obstáculo encontrado por Ton foi a concorrência, mas aos poucos seu nome passou a ser referência para aqueles que procuravam um vitralista. Um episódio que ajudou a projetar seu nome foi uma ‘exposição’ em um congresso de padres.
“Todos pediam orçamentos, mas não conseguia trabalhos. Em 1966 estava com as malas prontas para voltar para a Europa, quando um padre de Ribeirão Bonito me procurou para a execução do projeto que tinha orçado meses antes”, recordou.
De lá pra cá, o nome de Ton Geuer é sinônimo de qualidade no ramo e seus trabalhos podem ser conferidos em diversas igrejas de Campinas e do Brasil, entre elas Divino Salvador (Cambuí), Nossa Senhora Aparecida (Proença), Nossa Senhora de Fátima (Taquaral), Santa Tereza (Parque Industrial), São José (Vila Industrial), Santa Isabel (Barão Geraldo), Rosário (Castelo), Cristo rei (Chapadão), Igreja Quadrangular Presbiteriana (Centro), Capela do Liceu (Taquaral), Igreja São Roque (Vila Industrial) e Capela do Colégio São José e muitas cidades do Brasil todo .
E entre os trabalhos, uma curiosidade: no começo, os vitrais eram construídos a partir de vidros adquiridos em casas demolidas e, com os anos, Geuer conseguiu comprar – e até fi rmar parceria – com um antigo concorrente que foi à falência. E o mais curioso e criativo: a execução do projeto da capela da Escola de Cadetes. “Os vitrais eram todos azuis e não tinha vidro para construí-los.
A saída foi o Leite de Magnésia”, disse, entre sorrisos, ao contar que ‘pagava’ a criançada para conseguir os vidros vazios pelas ruas e que este ‘segredo’ foi revelado após muitos anos. Para quem tem dúvidas, completou, basta visitar a capela. “Foram utilizados 2,6 mil vidros de Leite de Magnésia”, reforçou, ao citar o remédio que, hoje, é comercializado em frascos de plásticos azuis.
Residências Os vitrais estão além das igrejas e com o vidro Ton faz inúmeras peças decorativas, desde portas, abajures, lustres, biombos e janelas para residências até pratos e porta-guardanapo.
“A região de Campinas é uma das mais utilizam esta arte”, disse, ao frisar que os vitrais suavizam o ambiente ao proporcionar a luz indireta. O primeiro passo para quem pensa em decorar sua casa é escolher o motivo – fl oral ou geométrico, por exemplo –, as cores e o tipo de vidro. E Ton adianta: seus projetos fi cam mais bonitos quando tem liberdade para criar. “Com papel e lápis, desenho o projeto e depois acrescento as cores para aprovação do cliente.
Quando aprovado, o desenho é refeito em tamanho natural para fazermos os moldes que serão utilizados para cortar os vidros”, resumiu, ao explicar que depois é feita a montagem, solda com estanho e veda. Aos 88 anos, completados esta semana, Ton Geuer calcula já ter realizado mais de 200 vitrais para igrejas e mais de 1.500 para residências. Ele mesmo é o designer e junto com a equipe executa os seus trabalhos.
Vive para criar, projetar e restaurar obras de arte. Dentre os muitos restauros, destaca-se uma clarabóia de 25 metros de diâmetro que foi enviado a ele, nos anos 70, em 24 caixotes de madeira. A restauração foi feita em dois meses e foi um dos primeiros trabalhos ‘bem remunerados’ de Geuer.
A obra pertence ao Grande Hotel de Araxá (MG). Ton foi também professor da disciplina Vitral, da Faculdade de Artes da PUC-Campinas. Para os interessados em conhecer os trabalhos de Ton Geuer, o ateliê fi ca em Barão Geraldo, na rua José Martins, 1549,Vila Santa Isabel. Ton Geuer também expõe, há cinco anos, na Expoflora.

Vitralista holandês de alma brasileira

Vitralista holandês de alma brasileira:
é o Ton Geuer


Ana Lúcia Vasconcelos

De família de vitralistas-o avô Heinrich e o pai Frederik (Fritz) eram vitralistas conhecidos na Alemanha e norte da Holanda no final do século XIX e inicio do XX, o holandês Ton Geuer demorou a seguir a tradição familiar. Começou a trabalhar com vitrais aos quarenta anos, e para sorte nossa aqui em Campinas, mais precisamente em Barão Geraldo (sub prefeitura de Campinas e atualmente grande pólo cultural por causa da proximidade da Unicamp) onde vive desde que chegou ao Brasil.

Sua casa que é também seu atelier e sua oficina é maravilhosa-espaçosa, clara, de tijolos à vista, rodeada de plantas que ele a mulher e as filhas cultivam, cheia de vitrais, criações exclusivas premiadas, amostras de trabalhos que dão uma panorâmica de toda a sua trajetória, desde o inicio com os vitrais já com desenhos de figuras apenas sugeridas, passando pelas pesquisas em vidro, até chegar as suas criações que inovam na arte: os vitrais com vidros incolores de diferentes texturas - sucesso absoluto na decoração de interiores que ele apresentou pela vez na Casa Décor organizada pela Solange Tannurri em 1996. Sem falar do acervo dos belos vitrais que Ton para as igrejas não só de Campinas e região, mas de todo o Brasil.
Em setembro de 2005 Ton Geuer marcou presença na 24º. Edição da Expoflora de Holambra (interior de São Paulo) com um painel de vitrais no jardim criado pelo paisagista Omar Batarce.

Aos oitenta e oito anos não é o momento de se fazer um balanço? Quantos trabalhos foram realizados? Mais de duzentos vitrais para igrejas e mais de trezentos para residências.” A gente está fazendo este levantamento”, explica a filha Mathilde responsável pela produção, supervisão dos trabalhos da equipe composta por Ton , 15 ajudantes inclusive duas estudantes de artes plásticas da Unicamp, e mais duas filhas: Tinike e Marianna. A Marianna fica na administração e a Tinike coordena os trabalhos de restauração. E o Ton ainda trabalha? “Meu pai tem uma energia e uma criatividade incríveis. Se a gente deixar ele trabalha mais que todos juntos”.

Pai introduz o
vitral moderno

A história começa no final do século XIX, com o avô alemão, Heinrich Geuer, fazendo vitrais na famosa Catedral de Colônia. Acontece que o bispo de Utrecht, cidade do centro da Holanda, monsenhor Van Heukeln, responsável pelo renascimento da fé católica no norte do país, começou a requisitar artistas para fazer os vitrais das suas igrejas. O avô de Ton tranfere-se então para a Holanda, juntamente com outros artistas e lá se estabelece. O pai, Fritz Geuer, continuando a tradição paterna foi para a Alemanha estudar arte na Universidade de Munique voltando na seqüência para a Holanda, onde se casou. Ton nasceu na cidade de Soest, perto de Utrecht e desde criança conviveu com vitrais.
“Meu pai foi um revolucionário na matéria”, conta Ton Geuer. Ele introduziu o vitral moderno e por isso quase foi abandonado pela Igreja. Só recomeçou a fazer vitrais na Bolívia para onde foi em 1936.” E o que seria este vitral moderno? Didático, Ton explica que há vários estilos de vitrais: o clássico, pintado como se fosse um quadro a óleo, o neogótico onde o chumbo é pouco usado e o moderno, introduzido pelo pai, com desenhos mais arrojados. Explica que evidentemente o vitralista pode trabalhar, pode pintar no vidro, mas ele se afasta do valor do material-o vidro-para mostrar apenas uma capacidade técnica. Lembra que depois que artistas famosos como o arquiteto Corbusier, os artistas plásticos Bracque e Chagall começaram a se dedicar a esta arte, o vitral tomou novos rumos, começou a existir como expressão autônoma”.O vitral faz parte da arquitetura, não é uma arte aplicada, mas uma arte funcional.”

No Brasil, Ton finalmente
vai se sentir em casa

Mas ainda que Ton tenha aprendido a técnica do vitral com o pai, ele só vai se iniciar nesta arte aqui no Brasil na década de 60. Não se considerava um artista como o pai, os tios, os irmãos. Tanto assim que na Bolívia, para onde a família se transferiu fugindo do nazismo – “nós não somos judeus, mas meu pai não gostou dos nazistas fazendo queimas de livros, e, além disso, minha mãe era uma pacifista fanática” - e onde viveu 23 anos com os pais, fez outras coisas: laticínios, cerâmica, tear, tapeçaria.
Já casado e com cinco filhos pequenos Ton é obrigado a desistir de morar na Bolívia: seu negócio com laticínios começa a ser abalado: o governo boliviano, para abrir uma fabrica de leite em pó começa a comprar toda a produção de leite dos seus fornecedores que a esta altura já era metade dos produtores do país e, além disso, havia liberado armas para os índios que andavam pelas ruas com metralhadoras.
Tinha várias opções: ir para o Canadá onde estavam dois irmãos-dois outros estavam na Holanda, um estava na Alemanha, um nos Estados Unidos e um no sul do Brasil. Para a Europa ele não queria voltar, pensou no Canadá e no Brasil: havia lido numa revista polonesa sobre irmãs da Lumen Christi ensinando cerâmica na Holambra. Pensou, quero conhecer aquilo. Assim, antes de ir para o Canadá resolveu dar uma chegadinha no Brasil. Pegou o Trem da Morte e foi até Corumbá. E já no trem, falando em castelhano era entendido pelos brasileiros. Finalmente se sentiu em casa.
“Eu preciso explicar isso. Acontece que durante minha infância e adolescência meu pai foi várias vezes para a Alemanha-ele ficava entre a Holanda e a Alemanha, trabalhando. E nós éramos “os holandeses” na Alemanha e “os alemães” na Holanda. E na Bolívia nós éramos os gringos. Quer dizer nunca tive pátria, nunca senti que eu tinha uma nacionalidade. E em Corumbá falando castelhano com brasileiros me senti em casa.”
Fora isso, Ton tinha medo de enfrentar o frio canadense, não só do clima, dos graus abaixo de zero, mas o frio da mentalidade, o fechamento do povo. “O brasileiro com tudo que tem de falho é muito humano enquanto a mentalidade do holandês, do europeu é muito fechada. O europeu vive o amanhã, não vive o presente, e afinal este amanhã nunca chega. Já o brasileiro vive o hoje, curte a vida.” Ou seja, ali mesmo, em Corumbá decidiu que ficaria no Brasil.

Como vitralista enfrenta
o trust do vidro

Como não se via morando numa colônia holandesa pensou em Campinas ou Jaguariúna: acabou ficando em Barão Geraldo. Foi ao Consulado se apresentou e colocou um anuncio nos jornais se oferecendo como técnico em cerâmica e vitralista. Foi então que encontrou um padre holandês que estava em missão numa igreja da Vila Industrial, o padre Jans Schuur, que conhecendo a fama da família Geuer, vai incentivá-lo a começar para valer nos vitrais. Ele começou, mas antes teve que lutar contra um verdadeiro trust do vidro.
O negócio de vitrais naquela época era monopolizado pela Casa Conrado e mais duas de São Paulo, sendo que só a Conrado era responsável por 95% da produção de vitrais do país. Mas como não há mal que sempre dure um dia a Casa Conrado entrou em concordata e por ironia do destino quem ajudou o velho Conrado a se recuperar foi o Ton que durante cinco anos arranjava encomendas para ele, assinava contratos, etc. Até comprou grande parte do material da casa rival.

E não é que este fato estimulou Ton, porque nada como uma boa disputa para definir carreiras. O fato é que Ton foi em frente, no começo só ele e a mulher, e depois já formando uma equipe. Chegou a ter 23 funcionários. Hoje tem 15 e está definitivamente consolidado como vitralista, aliás, o único da cidade com tradição técnica como ele diz, e um dos poucos do Brasil. Só para se avaliar a raridade desta modalidade artística, vale lembrar que há atualmente seis vitralistas no Brasil: o Studio Conrado em São Paulo, o Mansur em Itú, seu irmão, Paulo Geuer, em Porto Alegre, Frederik Geuer, seu filho em São Paulo a irmã Yolanda Castel Geuer em Ribeirão Preto, e Ton em Campinas.

Vidros com texturas
diferentes

E afinal quem sabe o pai de Ton Geuer tivesse razão quando não deixou que ele freqüentasse academias de arte? “Naquele tempo”, ele explica, “a Academia era tão forte que o artista podia perder a identidade. É lógico que a Academia ajuda, mas também atrapalha porque tira a personalidade do artista, seu toque pessoal”.
Mas felizmente Ton não fez cursos e continuou inovador como o pai: ele introduziu o uso do vidro com textura que permite uma expressão mais livre. Comparando com estilos de pintura seria assim: o estilo do vidro com textura seria o equivalente a uma aquarela onde se pode dar nuances de cor. “Fazer vitral é fácil, não tem segredos”, diz Ton Geuer. ”Basta saber desenhar, cortar o vidro com diamante e colocar o chumbo. Complicado é saber colocar a peça certa no lugar certo, enfim, harmonizar o vitral com o ambiente”. Mas se é tão fácil, por que há tão poucos vitralistas hoje no Brasil?

Porque o processo de importação do vidro continua sendo complicado e caro. Hoje não há mais o monopólio, mas as importações são feitas via Estados Unidos. Os vidros melhores continuam sendo os belgas, alemães e ingleses e franceses, mas os americanos concentram lá as importações e os vitralistas de todo mundo compram deles. Mas não só isso. Mathilde vê a questão mais da cultura do país, que só agora começou a dar o devido valor a esta arte”. Hoje os arquitetos sentem que o vitral pode enriquecer o ambiente, e sugerem aos seus clientes como opção de decoração. Daí que o vitral hoje está sendo muito usado em residências para realçar o ambiente, como peça de arte mesmo.E a tendência hoje é o vidro com diferentes texturas, incolores ou com cores claras,o que dá sobriedade e não choca com outras peças da decoração.”


Tour pelas igrejas

Se voce quiser ver os vitrais de Ton Geuer, vai ter que fazer um tour não apenas pelas igrejas de Campinas: ele tem obras em várias cidades da região e em outros estados do Brasil. Aliás, em Campinas os vitrais de praticamente todas as igrejas são seus, à exceção dos da igreja Santa Rita de Cássia na Nova Campinas (que ele restaurou há alguns anos) os da Nossa Senhora do Carmo, no centro da cidade e o paravento da Catedral Metropolitana de Campinas.
Os primeiros vitrais criados por Ton Geuer foram os da igreja São José da Vila Industrial em Campinas, onde usou vidros importados de antigas casas demolidas. Quis o destino, ou a providencia divina que uma chuva destruísse tudo e ele então reconstruiu depois de alguns anos, já usando todo o conhecimento acumulado em anos de Brasil.
São seus ainda os vitrais da igreja Divino Salvador que ele considera os mais bonitos, os da capela São Tomás de Aquino (da Escola de Cadetes), e da Igreja Cristo Rei, no Jardim Chapadão, do Seminário Protestante da Rua General Osório, da igreja Presbiteriana Independente da Rua Lusitana (Centro) da igreja Santa Edwiges do Jardim Aurélia, Santa Isabel de Barão Geraldo, do Rosário do Jardim Guanabara, da igreja Nossa Senhora Aparecida no Jardim Proença, os da igreja do Nazareno na José Paulino.
Ton criou também os da igreja São Roque da Vila Industrial, os da igreja Santa Terezinha do Parque Industrial, os da capela do Santíssimo da Matriz São José de Mogi Mirim, da igreja Divino Salvador de Holambra, Nossa Senhora de Fátima de Mogi Guaçú, os do Santuário Nossa Senhora Aparecida de Presidente Prudente, Igreja Nossa Senhora de Guadalupe em Brasília, da Escola Dom Bosco em Piracicaba, da igreja Nossa Senhora Medianeira, em Sorocaba, da igreja Sagrada Família em Limeira, os vitrais do Centro de Retiro Santa Fé em São Paulo, e os das igrejas Quadrangular de São Bernardo (Campinas) e de Curitiba (Paraná) e da Igreja São José em Itatiaia no Rio de Janeiro.

Recentemente criou os vitrais da Capela São Vicente em Campinas, em estilo gótico para seguir o estilo criado pela arquiteta Maria Rita Amoroso e ainda. E ainda os vitrais da Igreja Nossa Senhora do Carmo, em Presidente Prudente que é a primeira que tem nos vitrais o rosário agora com os quatros mistérios, já que foi feito na seqüência da introdução dos mistérios Luminosos pelo Papa João Paulo II.

Há cerca de cinco anos Ton reconstruiu os belos vitrais da igreja do Liceu Nossa Senhora Auxiliadora do Guanabara em Campinas e fez ainda janelas com vidro em concreto da Igreja Santana no Bairro Santa Isabel de Barão Geraldo utilizando fundos de garrafa. O resultado é surpreendente. Mas de todos esses Ton considera o mais o mais revolucionário, o trabalho que fez na igreja de Santana em Valinhos. Seus primeiros vitrais ainda tinham um pouco da influencia do pai, do avô, daquela ideologia medieval, de Chartres. “Sempre achei os desenhos belgas, holandeses e mesmo os italianos muito teatrais. Queria fazer uma coisa mais real, mais simples”.

Junção criativa
dos materiais

Mas afinal qual o segredo dos vitrais e como optar por esta ou aquela temática? “O fundamental nesta arte”, diz Ton, “ é criar ambiente, já que o vitral é luz colorida. Fora isso a beleza da arte vai consistir na junção correta e criativa dos materiais”.Os vidros melhores são os franceses na sua opinião, ainda que ele utilize vidros nacionais e esteja fazendo pesquisa para criar seu próprio vidro. E finalmente, a realização propriamente dita das peças com uso de tintas especiais para criar os temas, que apesar de serem sacros nem sempre são os mesmos. Para a concepção de cada conjunto de vitrais de cada igreja Ton conversa com os párocos e afinal chegam a um consenso.
Por exemplo, para criar os vitrais da igreja Nossa Senhora Aparecida, Ton, seguindo sugestões do padre Álvaro Anibiel, que era o pároco daquela igreja na época (década de 90), criou a rosácea central que fica bem em cima do altar principal, com motivos brasileiros: bandeirantes, índios, escravos, a torre da igreja Nossa Senhora Aparecida e a própria figura da Virgem superposta no contorno do mapa do Brasil.
Mas não se preocupe se voce demorar a ver essas figuras. Ton Geuer não é acadêmico e suas figuras são apenas sugeridas. Além disso, os “vitrais ”como explica o padre Álvaro Anibiel, tem uma função didática: “eles são uma aula viva da palavra de Deus e de catecismo, são uma Bíblia popular”. E por isso os vitrais da igreja Nossa Senhora Aparecida foram a seu pedido, um retorno ao espírito primitivo da igreja, só que numa linguagem moderna. Explicado assim não fica simples, sem segredos, como quer Ton Geuer?

Leia mais no site do artista


domingo, 11 de outubro de 2009

Oração de São Francisco




Empresto de Lena Rodrigues essa interpretação, por fazer parte de um momento específico de minha vida.



A Paz do Eu, agora e sempre e eternamente...


Esta prece de São Francisco de Assis (Chiquinho como sempre o chamei,rss) , ele se inspirou ao fazer um julgamento, sempre gostei dela... vejo como uma linda forma de falar com minhas memórias e pedir a Divindade que limpe em mim toda memória de julgamento e que seja transmutada em pura luz.



Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa Paz
(a Paz do Eu, a Paz que Eu Sou),

Onde houver ódio, que eu leve o amor
(Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grata.);

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
(Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grata.);

Onde houver discórdia, que eu leve a união
(Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grata.);

Onde houver dúvida, que eu leve a fé
(Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grata.);

Onde houver erro, que eu leve a verdade
(Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grata.);

Onde houver desespero, que eu leve a esperança
(Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grata.);

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
(Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grata.);

Onde houver trevas, que eu leve a luz.
(Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grata.);

Ó Mestre, fazei que eu procure mais,
(Lembrar-me de pedir pela limpeza de minhas memórias sempre que olhar o “lá fora”),

Consolar, que ser consolado;
(Pedindo a limpeza que compartilho com todos),

Compreender, que ser compreendido;
(Lembrar que ninguém é culpado e que sou 100% responsável por tudo que vejo),

Amar, que ser amado.
(Ao pedir pela limpeza de minhas memórias sou levada ao AMOR que Eu Sou),

Pois é dando que se recebe,
(Pedindo pela limpeza dou a mim mesma e ao outro),

É perdoando que se é perdoado,
(Perdoando-me, simultaneamente perdôo o outro, somos UM),

E é morrendo que se vive para a vida eterna"...
(Mantendo-me em incessante limpeza, o ego morre e vivo em Paz, na Paz do Eu, no Eterno AGORA!)



Sou grata, sou grata, sou grata pela oportunidade que estou tendo de libertar minhas memórias e a mim!
Sou grata. Sou grata. Sou grata.


Lena Rodriguez
www.cuidebemdevoce.com

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Alquimia, transparencia, forma e cores


"Escuro e nebuloso é o início de todas as coisas, mas não o seu fim."

A transmutação de qualquer metal em ouro, o elixir da longa vida são na realidade coisas minúsculas diante da compreensão do que somos. A Alquimia é a busca do entendimento da natureza, a busca da sabedoria, dos grandes conhecimentos e o estudante de alquimia é um andarilho a percorrer as estradas da vida. O verdadeiro alquimista é um iluminado, um sábio que compreende a simplicidade do nada absoluto. É capaz de realizar coisas que a ciência e tecnologias atuais jamais conseguirão, pois a Alquimia está pautada na energia espiritual e não somente no materialismo e a ciência a muito tempo perdeu este caminho. A Alquimia é o conhecimento máximo, porém é muito difícil de ser aprendida ou descoberta. Podemos levar anos até começarmos a perceber que nada sabemos, vamos então começar imediatamente pois o prêmio para os que conseguirem é o mais alto de todos.